Foi uma grande surpresa esta sessão com Sam, The Kid. Alguma hesitação inicial, rapidamente se transformou num discurso fluído sobre a “cena musical” do hip-hop (ou qualquer uma das derivações que lhe queiram associar). Foi muito positivo perceber que, efectivamente não se trata apenas de uma “cena” criada para vender um maior número de discos ou promover os artistas, mas antes de algo efectivamente genuíno, pelo menos para uma parte significativa dos seus intervenientes, com colaborações entre os músicos, procurando sempre criar algo de novo, ou levar mais além o estilo musical que preferem, seja na componente da escrita dos poemas que cantam, sejam nas batidas, sejam nos instrumentais. Aqui ficam algumas memórias das mais de duas horas de conversa.
- “Eu não me lembro de quando comecei a escrever em rima... desde que escrevo que a rima surge... já nas composições da escola...”
- Recorda que, quando no início aprendeu que podia fazer rimas mesmo sem ser com palavras com terminações semelhantes, foi como o abrir de um mundo novo. Exemplifica “se estivesse agora aqui um amigo meu, diria: - Agora... vou beber water", fazendo a terminação da palavra “Water” soar da mesma forma que “Agora" (NR. sobre a garrafa de água que estava à sua frente). Na fase actual está a trabalhar para conseguir fazer rimar também as consonantes, para conseguir utilizar essa repetição para marcar um ritmo.
- “Costumo anotar palavras... por exemplo “encorage” e “entourage”... e depois, quando estou a escrever, vou à procura desses apontamentos”. Quando mais tarde lhe perguntam onde regista essas palavras, se o faz num bloco de notas ou em folhas soltas de papel, responde directamente: - No telemóvel... a sério... no telemóvel!
- Não gosta quanto ouve alguém dizer“...na “cena” das rimas, o “ão” vem a seguir ao “ar”, nas rimas mais fáceis!”
- “O Rap não é só música de intervenção... porque se fosse, então o que eu faço não é Rap, é Música… porque eu gosto também de contar histórias”
- “Há quem tenha um tipo de escrita em que conforme escreve, descobre sobre o que está a escrever... talvez sobre o que estava a sentir no momento... e pensando bem, eu fazia isso. Mas agora já não. Prefiro decidir primeiro porque daqui a 10 anos quero saber sobre o que escrevi... quero comunicar comigo no futuro. Por isso agora é “stick to the script”... mas às vezes com canções de amor, sabe bem seguir o embalo da escrita (NR. como que excepção ao que referiu antes).”
- Sobre uma das suas músicas “16/12/95”, conta como foi construída. Que fala sobre “destinos paralelos”. Que encontrou uma rapariga com quem em tempos tinha estado, mas depois nunca mais se voltaram a ver... e “não gosto nada desta cena... de duas pessoas que se encontram... e conhecem-se... mas não falam... e depois de cinco minutos ali juntas, continuam a não falar... e vão falar sobre o quê...?”. Partiu de uma data em que se lembra que efectivamente esteve numa festa e estaria lá essa rapariga, e inventou o que poderia ter acontecido nessa noite, e as consequências dai decorrentes. Depois escreveu sobre uma realidade ficcionada, do que poderia ter acontecido nessa noite, e dai em diante, se nada do que inventou na primeira parte da história tivesse acontecido. A realidade e a ficção misturam-se nessa letra. As datas. Os locais. As personagens. “A rapariga chama-se (...) Sofia, mas na letra , só lhe vou chamar Sofia... é pá, já me estou aqui a “chibar” todo!”, diz com uma gargalhada!
- Quando o tópico “músicos portugueses que escrevem em inglês” foi levantado, a resposta foi directa: - "Podem fazer música em qualquer língua... podem fazer um instrumental... podem inventar uma língua, como os Blasted Mechanism... não há problema em ser em Português ou Inglês”.
- Num cruzamento inesperado, entre a criação artística dos personagens das três últimas sessões das Songwriter Masterclasses, cita como uma possível referência a letra que o Sérgio Godinho escreveu para uma música dos Clã, “Sopro do Coração”, trauteando de forma cadenciada “E o vento / sopra doido / e o que foi do / sopro do / coração”. “É uma rima que eu teria escrito. É uma inspiração.”.
- Quando a conversa passa pela questão da música “comercial”, revolta-se “porque ninguém diz isso como um elogio. Não aceito que digam da minha música que ela é comercial... Quando alguém vem ter comigo e diz isso, eu digo logo: - Espera ai, o que é que queres dizer com isso?”. Assume que procura fazer sempre a sua música de forma genuína e como tal quer saber se lhe chamam comercial apenas porque foram influenciados pelo que alguém disse, sem que exista efectiva fundamentação, ou se o fazem por qualquer outra razão. “Eu sou um grande fã de música, por isso compreendo os estados de espírito que passam pela cabeça de um miúdo”, exemplificando quanto à situação em que uma banda é conhecida apenas por um pequeno grupo de fans e depois passa a ser conhecida de forma generalizada, como que se lhes fosse roubada.
- Numa das suas canções usou o som de parte de uma discussão em que entrava o avô, porque “costumo ter o hábito de gravar tudo. Mas certa vez aprendi uma grande lição”, arrancando de seguida gargalhadas de toda a sala com a história que conta. Numa fase de “Ladies Night” do “Gringo's”, um amigo conseguiu “conquistar” uma rapariga... e ela estava com uma amiga que, por “inerência” dos acontecimentos, seria o seu par. Acabaram por ir os quatro para sua casa e teve a “infeliz” ideia de começar a tocar os seus “beats”, já com o quarto às escuras. A certa altura passou um “beat” feito com “uma gravação de uma conversa ao telefone de um amigo com a namorada... uma conversa romântica... e uma das raparigas começa a gritar - Acende a luz! Acende a Luz! Oh (…) vamos embora que estes gajos são daqueles que gravam coisas!”.
ESTE TEXTO FOI EXTRAÍDO DESTE AQUÁRIO
sem duvida, uma das melhores tardes que tive nos ultimos tempos! ainda por cima gravei tudo! a serio, curti mm bue! és um mestre mesmo! grande abraço, one luv
ResponderEliminar"olisiponense eu..."
curti bue do blog... =)
ResponderEliminartas la..
Gostava de ver uma coisa dessas no porto!
ResponderEliminarSam, no Som com o T.T tão longe tão perto, o instrumental sacas-te o sample do Gary Moore! Man Fantástico. Foi só mm pa dar-te a dicar! Grande Abraço continua.
ResponderEliminareitah
ResponderEliminaro final lixou tudo ahah
quanto ao sam, já muitas discussões coma minha gente tem havido... ele é o único, em Portugal, a quem não se pode apontar a ponta de um dedo. todo o trabalho feito por ele é só com um sentido: evolução. depois, e por consequência, sempre fiel a si mesmo, um trajecto sempre integro, na medida em que, nunca entou em contradição. por isso, o maior tributo, apoio, chamem-lhe o que quiserem, para Sam the Kid. pah, é mesmo o master da tuga e quem sabe se não mais...a projecção é que não é a maiir no pais que estamos porque tente-se criar uma imagem dele a rimar fora daqui, e vê-se na mesma o mesmo poder. não esmurece.
quanto ao blog, muito bom, coisas boas por aqui. kepp
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